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Nov
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Autópsia de uma entrevista aberta e em crowdsourcing | Autopsy of an open crowdsourced interview


Entrevista com Dave Cohn

Uma análise a uma experiência

_________________

Analisys of an experiment

Eu sei que já devem estar fartos de ouvir falar disto, mas este post encerra o assunto. O que me proponho fazer é uma pequena avaliação a esta experiência de fazer uma entrevista aberta e em crowdsourcing: o que correu bem, o que correu mal, e o que se pode retirar daqui.

O objectivo era entrevistar Dave Cohn, antes do lançamento do seu projecto de jornalismo em crowdfunding Spot.us ,oficialmente lançado esta semana. Parte das perguntas seriam feitas por leitores deste blog e eu assumiria a edição e a produção do trabalho.

Antes de mais, uma cronologia do processo:

a ideia foi lançada a 4 de Setembro; o Dave aceitou na hora fazer a entrevista; seis pessoas colaboraram e enviaram as suas próprias perguntas para juntar às minhas;

-as perguntas foram enviadas a 3 de Outubro;

-o video (de 30 minutos!!) com as respostas foi recebido dois dias depois e editado durante a semana seguinte;

a primeira parte do video foi publicada a 9 de Outubro, a segunda no dia seguinte;

-a versão em texto foi publicada em inglês primeiro no OJB e no Lago a 29 de Outubro; a versão portuguesa a 31;

Análise

Vamos começar pelas coisas que na minha opinião correram mal:

-DURAÇÃO: apesar de estar a jogar com a data de lançamento do projecto, todo o processo demorou demasiado tempo. O Dave foi muito rápido da parte dele e muito atencioso, por isso ele não tem responsabilidades nesta demora. Não se esqueçam que a entrevista não foi presencial e que todos os contactos foram feitos por email. O que acabou por levar mais tempo foi juntar um número razoável de participações, e depois editar a entrevista em vídeo e para texto. Isto leva a outro ponto.

-DIMENSÃO: a entrevista foi demasiado extensa. É um hábito que tenho, mas quando sei que os entrevistados são pessoas inteligentes com coisas para dizer gosto de tirar o máximo deles. Mas depois isso traz problemas: o Dave teve a bondade de me gravar um video de 30 minutos, para responder de forma brilhante a cerca de 15 perguntas; na edição tive que dividir o video final em duas partes (mais de 10 minutos cada) , e reestruturar um monte de informação para a versão em texto. Para quem vê ou lê a entrevista acaba por ser demasiado.

-EDIÇÃO: se o vídeo até resulta pela presença e personalidade do Dave, a versão escrita acaba por estar desiquilibrada, confesso que tive pouco tempo durante a edição do texto e há partes que se ressentem. Mas experimentem trabalhar em duas línguas ao mesmo tempo, e vão ver que não é fácil.

-PARTICIPAÇÃO: a parte que me preocupou mais foi o número reduzido de participações. Posso ter sido demasiado optimista tendo em conta o número de leitores do blog, mas também espalhei (e espalharam) a palavra pelo Twitter. Pensei que tivesse mais por onde escolher mas no fim usei as questões de todos os participantes.

O que correu bem:

-PARTICIPAÇÃO: foram poucos mas foram bons, o que parece ser regra aqui entre os meus leitores. As perguntas eram difíceis e muito interessantes, e vieram enriquecer a entrevista. O objectivo era mesmo esse, ter mais do que eu sozinho poderia dar.E aproveito para agradecer a todos pela sua participação – a lista das perguntas creditadas aos seus autores está aqui.

-O ENTREVISTADO: se a entrevista vale alguma coisa é pelo Dave que foi excepcional no tempo que dedicou a isto. Felizmente tenho tido a oportunidade de entrevistar pessoas que respeito e admiro e todas têm correspondido. O show é dele e espero que esta entrevista tenha contribuído para divulgar o seu trabalho. Eu estou imensamente agradecido pela paciência que ele teve.

-PUBLICAÇÃO: a entrevista saltou os limites deste blog e foi publicada no OnlineJournalismBlog e ambos os vídeos foram postados no Journalism.co.uk. Houve algum feedback também em outros blogs.

Como balanço final, só posso dizer que podia ter sido melhor. Eu queria abrir o processo de realização da entrevista ao público, não só dando-lhe acesso aos diferentes passos mas convidando-o a participar.

Depois, acho que podia ter feito um trabalho final melhor, a nível de estrutura e tratamento a entrevista tem algumas falhas, mas foi o melhor que pude dadas as circunstâncias em que me encontrava na altura. Há coisas a melhorar sempre.

É engraçado reparar que a ideia de processo aberto é utilizado dias depois numa experiência da Wired com um trabalho sobre o Charlie Kaufman. Para se poder dar esta abertura é preciso pensar melhor nos formatos e nas plataformas a usar, mas tudo também depende das dimensões das publicações.

Creio que este pode ser um modelo de trabalho que pode ser utilizado eficazmente através do online: a transparência de processos e a participação dos utilizadores na produção de entrevistas traz mais valias ao trabalho final, numa perspectiva de consumidor. Os elementos chave são a confiança, a identificação e a integração.

Mais do que na criação de conteúdos, o futuro dos cidadãos no jornalismo está na colaboração em crowdsourcing, e o jornalista será a ponte entre o entrevistado, a redacção e o público, assumindo os papéis de editor e produtor.É realmente uma profissão em transformação.

E vocês -os que chegaram até aqui- que pensam sobre tudo isto? Dêem as vossas ideias e opiniões.

I know you must be sick and tired of hearing about this, but this post will put an end to it. What i propose to do here is a short evaluation to this experience in crowdsourcing an interview: what went wrong, what went great, and what we can take from the whole thing.

The goal was to interview Dave Cohn before launching Spot.us,  his crowdfunded journalism project, which happened just a few days ago. Some of the questions would be proposed by the readers of this blog, and i would take the edition and production of the interview.

But, first, a small chronology:

the idea was set on the September 4th; Dave immediatly said he would do it; six people participated and sent their own questions to add to mine;

-those questions were sent on the October 3rd;

-the video (30 minutes long!!)  with the answers came two days later and the editing took part of the following week;

the first part of the video was published on the 9th and the second in the following day;

-the english text version was posted at OJB and at The Lake on the Oct.29th; the portuguese version was available on the 31st;

Analisys

Lets start with the things that – in my opinion- went wrong:

-DURATION: despite taking in account the date when the project would be launched, the whole process took too long. Dave was very quick and thoughtful throughout the process, so he has no responsibilities on this. Don’t forget the interview wasn’t made in person, and that all the contacts were made by email. What ended up taking more time was to gather a reasonable number of contributions, a then editing the interview in video and text. This leads to another item.

-SIZE: this interview was too long. It’s an awful habit i have, but  when i know the subject of the interview is an intelligent person with things to say i like to take the most out of them. But that brings problems later: Dave had the kindness of recording a 30 minute video to answer brilliantly to about 15 questions; i had to cut it to a two part final version (with more than 10 minutes each), and restructure a whole lot of information for the text version. For those who watch the video or read the interview online is a bit too much.

-EDITING: if the video works because of Dave’s presence and personality, the written version came out a bit unbalanced. I admit i didn’t have much time while editing the text version, and some parts resent that. But try to work in two languages simultaneously and you’ll see how hard it is.

-COLLABORATION:  the thing that worried me the most was the low number of participations. I may have been a bit to much optimistic regarding the regular number of readers of my blog, but i (and others) spread the word out on Twitter. I thought that in the end i would have more to choose from, but i got to use all the questions left.

What went well then:

-COLLABORATION:  they were few but they were good, which seems to be a pattern among my readers. The questions were tough and really interesting, and added value to the interview. That was the goal, to have more than what i could give on my own. And i take this opportunity to thank you all who participated – the list of the questions credited to their respective authors is here.

-THE INTERVIEWEE: if the interview is any good is because of Dave who was amazing in the time he spared to do it. Fortunately i’ve been having the chance to interview people that i admire and respect and all of them have lived up to the expectations. It was his show and i hope this interview helped to make his work better known. I’m so grateful  for all his patience he had with this.

-PUBLISHING: the interview wasn’t confined just to the limits of this blog, and it was posted at the OnlineJournalismBlog and the videos at Journalism.co.uk. There were references in other places too.

All in all , i just can say it could have worked better. I wanted to open the process of making the interview to the public, not only giving them access to the different steps, but also making them a part of it.

Then, i guess i could have done a better job in the end, structurally and on a treatment level the interview has some flaws, but it was the best i could given the circumstances i was at the time. There are always things to immprove.

It’s also funny to notice that the idea of open process is used a few days later with a Wired experiment over a story on Charlie Kauffman. To do something like this you have to really think through the formats and platforms to use, but it also depends on the size of each endeavour.

I believe this could become a working model that can be used effectively online: the transparency in the process and users participation in the production of interviews adds value to the final result, in a consumers perspective. The key elements  here are trust, identification, and integration.

More than in the creation of contents, the future of citizens in journalism will be in crowdsourced  collaborations, and the journalist will become the bridge between the subject, the newsroom and the audience, taking the roles of editor and producer.It is a job in transformation indeed

And what about you – those who got this far. What do you think about all this? Share your thoughts and leave your opinion. Thanks.

EXTRA : full unedited video

Vodpod videos no longer available.


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5 Respostas to “Autópsia de uma entrevista aberta e em crowdsourcing | Autopsy of an open crowdsourced interview”


  1. 12 de Novembro de 2008 às 4:08 pm

    Olá Alexandre. Acho que a iniciativa foi interessante, mas pessoalmente não me agrada muito o formato de entrevista. Acho que perdeu grande parte da sua razão de ser…

  2. 12 de Novembro de 2008 às 4:13 pm

    Obrigado Miguel.

    Mas gostava que explicasses melhor as tuas razões. A entrevista é uma parte fundamental do jornalismo, não só como técnica de recolha de informação, mas também como género – esta é a minha perspectiva.

    Porque é que dizes que perdeu a razão de ser? Não és o primeiro que ouço dizer isso, só que és o primeiro a quem posso pedir justificações ;).Cá fico à espera.

  3. 13 de Novembro de 2008 às 1:26 pm

    Aqui está o que eu acho: se a entrevista é sobre um projecto em que a informação se encontra disponível online em muitos outros sites penso que é um bocado redundante. O que faz sentido é sintetizar essa informação e criar uma espécie de diálogo sob a forma de linkania com o entrevistado que quase sempre tem um blog e pode interagir connosco desta forma.

    Agora, se essa informação é escassa e refere-se a um contexto offline – um relato de uma experiência de outros tempos -, creio que faz todo o sentido porque é uma experiência directa e em primeira mão de algo que de outra forma não teríamos tido acesso. Porque nos surpreende, porque nos remete para um contexto a que nós estávamos alheios.

  4. 13 de Novembro de 2008 às 1:32 pm

    Ok, percebo. Eu gosto sempre que os sujeitos digam o que pensam na primeira pessoa, por mais que tenham dito isso antes, aliás, devemos confrontá-los com o que já disseram e verificar as evoluções e alterações de opinião, acção, ideologia.

    Mas principalmente é pela narrativa pessoal que eu gosto de entrevistas.

    Obrigado pela explicação Miguel.


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