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This week’s edition of the portuguese magazine Visão has been censored. Don’t worry, there’s nothing wrong with this, they are just celebrating the 35th anniversary of the Carnation Revolution. They picked two of their most experienced editors, that worked during the dictatorship, and had them put on the shoes of their worst enemies back then: the blue penciled censors, that cut everything that could harm the image of the regime and their personalities. So that’s why the magazine is all crossed and scratched out. The times have changed, and censorship is a foreign notion for many young journalists, though there is a new kind, the economical, labouring censorship, that constrains journalists’ work with the fear of getting fired, especially in dire times like these. Censorship is no longer exclusive to a repressive state, but also a weapon for corporate suited malefactors that want their agenda passed on. And many times, they live within the news companies. Throughout the world, journalism is often the act of publishing the truth against the will of the darkest powers. Sometimes, the ultimate price is not a public lie, but people’s lives. And many forget that there is a price for the truth, wherever you may be. I’m happy that someone decided to remember something i never knew, in that way. Maybe that will help people open their eyes to the flooding of contents that aren’t news, but propaganda, they have to put up with.
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A edição desta semana da Visão foi censurada. Não se preocupem, não há problema nenhum, é apenas forma que eles encontraram para celebrar os 35 anos da Revolução dos Cravos. Eles escolheram dois dos seu redactores mais experientes, que trabalharam durante a ditadura, e puseram-nos no lugar dos seus piores inimigos na altura: os censores de lápis azul, que cortavam tudo que pudesse prejudicar o regime ou as suas personalidades. Por isso é que a revista está toda riscada e rasurada. Os tempos mudaram e a censura é um conceito estranho para muitos jovens jornalistas, apesar de haver um novo tipo, a censura económica, laboral, que limita o trabalho dos jornalistas com a ameaça de despedimento, especialmente em tempos tão complicados como estes. A censura não é mais exclusiva de um estado repressivo, mas também uma arma dos malfeitores corporativos de fato e gravata que querem a sua agenda publicada. E muitas vezes vivem dentro dos orgãos de comunicação. Pelo mundo fora, o jornalismo é muitas vezes o acto de publicar a verdade contra a vontade dos mais negros poderes. Por vezes, o preço máximo não é a publicação de uma mentira, mas a vida de uma pessoa. E muitos esquecem-se que há um preço para a verdade, estejam onde estiverem. Fico contente por ver que alguém decidiu recordar algo que nunca conheci, pelo menos daquela forma. Talvez isso ajude as pessoas a abrir os olhos para o bombardeamento de conteúdos que não são notícias, mas propaganda, a que são sujeitos.
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É em tributo à liberdade de expressão que este número “censurado” faz sentido. Com ele, pretendemos lembrar, de uma forma muito imediata, tudo o que significa não ter direito a informar e ser informado nem liberdade de Imprensa. Como veremos ao longo das páginas deste revista, com a quantidade de texto que aparece com a indicação de censurado, o controlo do pensamento e da expressão das ideias não se limitava (nunca se limita) à política, no seu sentido mais restrito. Pelo contrário, espalhava-se às várias áreas da vida em sociedade, das questões laborais à religião, do ensino à criminalidade, da economia à moral e aos costumes. Aplicava-se a tudo o que, de forma próxima ou longínqua, se afastasse do pensamento oficial ou pudesse, de algum modo, beliscar a imagem que o regime tinha construído para si próprio e impunha a toda a população como verdade indiscutível. E de tal forma que, em algumas ocasiões, se tornava ridícula, como poderemos ver na muito ilustrativa crónica de Francisco Pinto Balsemão que publicamos na pág. 10.
Quando estiver a ler os textos que se seguem lembre-se de uma coisa: neste número, as palavras, as ideias e as realidades que retratam, e que foram objecto desta “censura” simulada, aparecem cortadas ou sublinhadas, e acompanhadas dos carimbos que a Censura usava nas provas dos textos produzidos pelos jornalistas. Há 35 anos, na prática diária do regime, aqueles trechos cortados eram realidades, pura e simplesmente, apagadas, realidades que deixavam de existir por força do lápis azul do censor.
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