O Grupo Lena (Sojormedia) já tinha anunciado a sua intenção de lançar um novo projecto jornalístico em 2009, um diário posicionado no mesmo segmento do Público e do Diário de Notícias.
Eles lançaram um site com o curioso nome de QueroSerJornalista.com para captar os futuros profissionais que irão compôr a redacção, como estagiários.
De acordo com a notícia no Público “o objectivo será recrutar licenciados com idades até aos 26 anos, oriundos de várias áreas de formação e não apenas da comunicação social, e que tenham apetência pelas novas tecnologias.” Serão 25 finalistas que farão um curso de formação para depois integrarem a redacção. A sua formação poderá ser “da Matemática às Ciências Humanas, da Biologia à Gestão, da História à Comunicação Social”, como vem indicado na descrição do projecto.
Obviamente, estes não serão os únicos elementos da redacção, e a equipa de direcção anunciada há uns meses era de peso: “o grupo Lena convidou o antigo director do Diário Económico Martim Avillez Figueiredo, e conta já na administração do projecto com Francisco Camacho, que transita da revista Sábado e Sílvia de Oliveira ,subdirectora do Diário Económico, para os cargos de directores adjuntos, e Miguel Pacheco (editor executivo do DE) para a subdirecção.“
Apesar de ser a maior oportunidade neste momento para jovens jornalistas no mercado nacional, não deixo de ter algumas reservas relativamente aos parâmetros de selecção presentes no formulário online disponibilizado para os candidatos. Se por um lado revela uma abertura para se fazer um jornalismo moderno, por outro não são claros nas competências e conhecimentos específicos que os candidatos precisam de ter. Quando questionados sobre os conhecimentos, os candidatos têm que escolher entre três graus de competências em Internet e redes sociais, sem mais pormenores; mais uns passos à frente perguntam se os candidatos estão inscritos em redes sociais, se têm um blog, sem possibilidade de indicar os respectivos links (no final têm alguns campos onde poderão dar essas indicações, mas a sensação que dá é que os candidatos não serão avaliados nesta fase pelos conteúdos que produzem ou pela capacidade de gestão em redes sociais).
Ainda perguntam pelas capacidades dos candidatos em fotografia e vídeo, mas é manifestamente pouco. Levanto a clara possibilidade de estarem a recrutar especificamente profissionais especializados nessas áreas. Ou então os finalistas irão adquirir conhecimentos mais aprofundados na formação subsequente à fase de selecção, o que será o mais provável.
Eu já nem questiono a abertura a candidatos formados fora do âmbito da comunicação social – não é o curso que faz o jornalista, embora na teoria forneça mais habilitações e conhecimentos e uma maior solidez na execução da actividade profissional – mas questiono a definição do jornalista imposta na candidatura. Parece que querem pessoas que saibam umas coisas de internet e não profissionais vocacionados para esta nova idade do jornalismo.
Depois, o facto de exigirem a carta de condução como factor sine qua non para a aprovação da candidatura é um bocado desfasada da realidade de uma redacção que aposte no online: há muitos jornalistas que podem desenvolver a sua actividade dentro de portas, e não acredito que tenham 25 carros disponíveis para todos. Além disso, estes 25 irão andar na rua todos os dias? Ou seja, serão eles que assegurarão o grosso da produção dos conteúdos do projecto? Parece-me um contra-senso relativamente às intenções demonstradas. A carta de condução é uma mais valia óbvia, mas creio que é um factor eliminatório pesado, ao menos que dissessem que era uma condição preferencial.
Nem quero entrar pela questão dos estágios, as indicações que tenho é que não se pretende que sejam mão-de-obra a preços baixos, e que se pretende valorizar os candidatos seleccionados.
Eu não estou por dentro do processo, e não gosto de ser pessimista sem ter mais informação, mas educaram-nos a desconfiar de algumas coisas. Por isso, vou ressalvar dois pontos que me parecem positivos: é uma grande oportunidade para quem quer ser jornalista e recomendo que se inscrevam, não têm nada a perder; agora se é grande em quantidade apenas ou também em qualidade, não sei. Depois, vê-se que o Grupo Lena está prestes a dar um salto importante empresarialmente, o que em tempo de crise – económica, e particularmente no negócio do jornalismo – é admirável.
As impressões iniciais são de alguma reserva, mas acho que vamos todos ter que esperar pelos resultados.
Recepção de candidaturas:
De 8 a 16 de Novembro
Os candidatos deverão submeter os seus dados através do formulário disponível no site www.queroserjornalista.com.Processo de selecção:
Primeira fase selecção – De 19 a 20 de Novembro;
Divulgação de resultados da primeira fase: 24 de Novembro.
Segunda fase de selecção: 24 e 25 de Novembro.
Divulgação de resultados da 2ª fase: 28 de Novembro.
Terceira fase de selecção: 28 de Novembro e 4 de Dezembro.
Divulgação de resultados da 3ª fase: 5 Dezembro.
Quarta fase de selecção: 9 a 12 Dezembro
Divulgação de resultados da 4ª fase apenas aos seleccionados.
Todas as fases têm timings definidos em termos de datas e horários e os detalhes de selecção das mesmas estão disponíveis online através do site www.queroserjornalista.com 24 horas/dia.
O cumprimento dos prazos de entrega das provas de selecção é obrigatório, pelo que o incumprimento é factor eliminatório.
Continue a ler ‘Que jornalista eles querem que vocês queiram ser?’
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