O Paulo Querido fez a tão discutida apresentação no IV Encontro de Blogues intitulada “O Fim da Blogosfera”, e partilhou o seu slideshow que lhe serviu de apoio num artigo do Expresso. De acordo com o Paulo, “ já não há (energia na) blogosfera. Um título destes em 2006 teria pegado fogo à blogosfera, que então existia, em todo a energia das suas juvenis borbulhas.”
O ponto será esse mesmo, as borbulhas. A denominada blogosfera corporativizou-se, institucionalizou-se, atravessou um processo de selecção natural entre os seus pares, comercializou-se e aumentou o seu valor competitivo no mercado de conteúdos. Ou seja, passou das demonstrações juvenis e arranjou um emprego a sério. Pelo menos alguns arranjaram. Mas isso, no meu ponto de vista, só significa que a blogosfera, como em qualquer outra actividade – desde o póquer ao golfe, desde a pintura à música – vive muito de uma massa anónima que faz o que faz por gosto, mas poucos conseguem ser estrelas ou viver disso. E muitos desistem logo ao início ou a meio, ou mantém uma actividade regular com resultados modestos mas pessoalmente satisfatórios.
Mas um blogue é apenas uma plataforma e não uma forma de expressão. Essa expressão é hoje traduzida em posts e recados em redes sociais, no Twitter, ou transformaram-se em elementos eminentemente visuais, deixando a palavra para trás. Por isso não podemos falar no blog como um estilo, mas apenas como o primeiro grande passo na democratização da expressão individual na web. Como disse Nicholas Carr ainda a semana passada:
“Blogging” has always had two very different definitions, of course. One is technical: a simple system for managing and publishing content online, as offered through services such as WordPress, Movable Type, and Blogger. The other involves a distinctive style of writing: a personal diary, or “log,” of observations and links, unspooling in a near-real-time chronology. When we used to talk about blogging, the stress was on the style. Today, what blogs have in common is mainly just the underlying technology – the “publishing platform” – and that makes it difficult to talk meaningfully about a “blogosphere.”
O conceito de blogosfera nunca foi realmente muito forte, e designava na realidade a criação de conteúdos fora de uma estrutura comercial, por amadores, curiosos, pessoas com demasiado tempo livre e/ou demasiadas coisas para dizer, mesmo que na maioria das vezes não fossem nada de jeito. Foi o nome que se deu à vaga de assalto gigantesca levada a cabo pelas pessoas “normais” na web – que aconteceu ao mesmo tempo de uma melhoria tecnológica e uma época perturbadora que incitava a essa expressão pessoal.
Será que podemos falar de um fim? Talvez, mas no fim de uma fase. Especialmente porque a plataforma é tecnologicamente válida, e será a mais indicada para uma série de projectos, desde relatos sobre a vida em países em desenvolvimento feitos por cidadãos independentes – ou sob uma ditadura – à criação de own media, como blogues informativos dedicados a nichos de mercado a que mais ninguém liga, ou a comunidades específicas. Por isso não é o fim, é uma mudança. Sobre a sua apresentação, o Paulo Querido diverge um pouco essa ideia:
Apresentei 2 sinais – entre outros que nos rodeiam – para reforçar a tese do fim de algo mais que um ciclo. Sinais que, no caso da blogosfera portuguesa, vêm sido detectados desde 2006. Mas aflorei ainda aspectos que contribuem para tirar impacto aos blogues (e energia aos autores e leitores). O surto das redes sociais e da participação dos indivíduos nelas, bem como as alternativas editoriais como o microblogging, que é onde agora está a acção.
Fim, transformação ou renascimento, numa mega esfera virtual a várias velocidades, os blogs ainda se mantém válidos numa realidade que já procura o que vem a seguir. De notar que todos os links que estão relacionados com este assunto – aqui e noutros lados – são blogs ou variantes.
A ver também:
José Luis Orihuela no IV Encontro de Blogues
APONTAMENTO SOBRE O ENCONTRO DE BLOGUES
Participação no IV Encontro de Blogues da UCP
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