Read this interview @ Paul Bradshaw’s Online Journalism Blog
(or click here to read the local english version )António Granado é o editor da edição online do jornal Público. Eles têm estado sempre na vanguarda das novas tecnologias, e recentemente criaram uma equipa de vídeo e fizeram uma renovação gráfica no site do jornal.
Nesta pequena entrevista falámos com um ocupadíssimo António Granado sobre as suas perspectivas sobre o jornalismo online, um assunto de que ele trata no seu blog PontoMedia. António Granado dá também aulas na Universidade nova de Lisboa, e é uma das principais vozes em Portugal na discussão dos novos media.
Qual é a situação do jornalismo online em Portugal? Existe?
O jornalismo online em Portugal está a dar os seus primeiros passos. O investimento nesta área ainda é residual e os média começam agora a olhar com outros olhos para as possibilidades que a Internet lhes abre.
O Público foi o primeiro jornal de referência a investir na sua presença na Internet. Que mudanças é que estão a decorrer ao nível do jornalismo digital?
O PÚBLICO estreia hoje (19 de Novembro) vídeos no seu website e criou uma equipa de cinco pessoas para os fazer. Vamos alterar também a nossa homepage para dar destaque aos vídeos e passaremos a apostar mais nas imagens e nas infografias. O canal de Economia passou a ser assegurado em permanência pelos jornalistas da Economia, um primeiro passo para a necessária mudança no sentido correcto.
Que tipo de público é que lê a edição online do jornal?
Não temos estudos que nos permitam perceber quem são exactamente os leitores do Público.pt. Qualquer coisa que eu dissesse, estava apenas dar opiniões e não a apresentar factos.
Como professor, acha que preparação dada aos alunos de Jornalismo nas Universidades tem em conta as novas realidades?
É evidente que a maioria das universidades não está a preparar os estudantes para as novas realidades. A título de exemplo, ainda se faz uma divisão entre o ensino do jornalismo escrito, radiofónico e televisivo, uma aproximação tipo século XX, já desactualizada.
Os jornalistas portugueses, no geral, estão preparados para os novos media?
Os jornalistas portugueses não estão preparados para os novos média, porque os novos média estão a entrar muito devagar nas redacções e, às vezes, da pior maneira. É preciso treinar os jornalistas para as tarefas que o novo jornalismo exige, é preciso fazê-lo com o apoio dos jornalistas e não contra eles. Em muitos sítios isto não está a ser feito.
Há já um jornalismo de participação, ou citizen journalism em Portugal?
Penso que não há ainda jornalismo participativo em Portugal.
Há alguns anos atrás houve quem dissesse que não havia futuro nas publicações online. Este ano o director do El País disse que se abrisse o jornal agora seria apenas na versão digital. Que tipo de mentalidade existe no mercado editorial português e o que é preciso mudar?
A mentalidade é retrógrada. Há ainda muito medo do digital. Não se põem notícias online para não “queimar” as cachas do papel, não se investe no multimédia porque, no fundo, as pessoas ainda acham que, se calhar, a crise dos jornais não veio para ficar. É preciso mudar a atitude dos gestores perante o multimédia (os pequenos avanços não chegam, é preciso passos muito maiores); é preciso mudar a mentalidade dos responsáveis dos jornais, que não podem continuar a achar que uma notícia dura 24 horas; é preciso mudar a mentalidade dos jornalistas, que têm de perceber que a sua missão principal é informar seja de que forma for e não vender jornais no dia seguinte aos acontecimentos.
Os jornalistas têm uma imagem muito forte de si, talvez comparável à dos médicos, por existir uma noção ou sensação de poder. O que é que acontece a esta imagem do jornalista com a participação do leitor? O jornalismo do cidadão é realmente jornalismo?
O jornalista tem de se habituar à participação dos leitores. Jay Rosen chama-lhes “the people formerly known as the audience”, porque agora podem e querem participar mais no processo noticioso. Os jornalistas têm de perceber esta mudança radical e adaptar-se a ela. O jornalismo cidadão por vezes é, e por vezes não é, jornalismo. Como todos nós sabemos, também há jornalismo que não é jornalismo e que nos envergonha a todos.
Como é o jornalista do futuro?
O jornalista do futuro é alguém que consegue olhar para uma estória e contá-la da forma mais eficaz. Que se preocupa mais com os leitores e não tanto com as suas fontes.
E o leitor do futuro?
O leitor do futuro é o leitor do presente. “Sabe mais do que eu”, como diz Dan Gillmor. Quer e pode participar mais. Não se contenta com texto. Quer as notícias de imediato, na plataforma que está a utilizar e não em qualquer outra que lhe queiram impor.
O cenário do jornalismo online português pode parecer desolador, mas as mudanças são inevitáveis. Os velhos hábitos custam a desaparecer, e a situação em Portugal é igual à de tantos outros países. É um processo lento que precisa de ser feito, como diz o António Granado, “com o apoio dos jornalistas e não contra eles”
Fotos Sandra Oliveira
António Granado is the editor of the online edition of Público, a reference newspaper in Portugal. They have always been ahead as online presence is concerned, and recently the newsroom created a video team, along with a webpage redesign. In this small interview, we tried to ask a really busy António Granado about his views on online journalism, a subject he verses in his blog PontoMedia. Granado is also a lecturer at Universidade Nova de Lisboa, and one of the best portuguese minds dealing with the new media issues.
What is the situation of the online journalism in Portugal? Does it exist?
Online journalism in Portugal is taking it’s first steps. The investment in this area is still minimum, and the media are now taking a different look to the possibilities opened by the Internet.
Público was the first portuguese reference newspaper investing in an online editionWhat changes are currently happening as digital journalism is concerned?
PÚBLICO debuts today ( November 19th ) videos on it’s website and created a 5 person team to make them. We are also changing our homepage to give more prominence to vídeo, and we will be betting more in pictures and graphics. The Economy channel is now assured in permanence by the economy journalists, a first step to the needed change into the right path.
What is the audience of Público’s online edition?
We have no data that allow us to perceive who the Público.pt readers exactly are. Anything I’d say would be my opinion and not a fact.
As a teacher, do you believe that the preparation given to journalism students at the universities takes into account the new reality?
It is clear that most universities aren’t preparing the students for the new realities. For example, there’s still a separation between the teaching of written, radio and TV journalism, which is an outdated 20th century.
Are portuguese journalists, in general, ready to embrace the new media?
Portuguese journalists aren’t prepared for the new media, because the new media are making it’s way into the newsrooms quite slowly, and sometimes, in the worst way. Journalists must be trained for the tasks demanded by the new journalism, you have to do it with the journalists support and not against them. In many places this isn’t being done.
Is there a citizen journalism in Portugal?
I don’t think there’s any yet.
A few years back some said that there was no future in online editions. This year El País director said that if he started the newspaper now, he would do it only online. What sort of mentality prevails in the portuguese editorial market what needs to be changed?
It’s a backward mentality. There’s still fear of the digital. People don’t post news online so they won’t “burn” paper scoops, there’s no investment in multimédia because, deep inside, people think that maybe the newspaper crisis isn’t here to stay. Managers attitude towards multimedia must be changed (the small moves aren’t enough, bigger steps are required); nespapers responibles mentality must be changed, they can’t go on thinking that a news story lasts 24 hours; journalists minds must be changed, they must understand that their main mission is to inform in anyway possible, and not to sell newspapers on the day after the events.
Journalists have this strong sense of self, maybe something comparable to medical doctors, because there’s notion of power. What will happen to this sense with the participation of readers? Is citizen journalism really journalism?
Journalists must get used to the participation of readers. Jay Rosen calss them “the people formerly known as the audience”, because now they can and want to participate more in the news process. Journalists must understand this radical change and adapt to it. Citizen journalism sometimes is, and sometimes isn’t, journalism. As we all know, there’s also journalism that isn’t journalism, and that ashames us all.
How does the future journalist look like?
The journalist of the future is someone who can look at a story and tell it in the most effective way. That cares more about the readers and not as much about the sources
And the reader of the future?
The reader of the future is the reader of now. “He knows more than I do” as Dan Gillmor says. He wants and he can participate more. He’s not happy with text only. He wants news immediatly, on the platform he’s using, and not on any other that is imposed to him.
The setting for portuguese online journalism may look desolate, but change is inevitable. Old habits die hard, and the situation in Portugal is rather similar to many other countries. It’s a slow process that has to be made, just like Granado said “with the journalists support and not against them”.
Pictures by Sandra Oliveira
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